As férias de julho e final de ano eu passava em Baixo Guandu, com Pe. Alonso, a maior parte do tempo. Ficava pouco com a família. Trabalhar no patronato era para mim descanso e uma alegria. Ficar com Pe. Alonso servia de estímulo para minha vocação. Mantínhamos sempre longas conversas sobre a Milícia de Cristo, à noite, sentados na varanda da casa paroquial.
Deixamos Belo Horizonte e durante o primeiro semestre de 1965 ficamos no novo seminário Nossa Senhora da Penha, em Campo Grande. Em 03 de julho, na Catedral de Nossa Senhora da Vitória, fomos ordenados sacerdotes. Para mim, a grande alegria, realização e com certeza, motivação à Vida Religiosa, foi a presença de nosso Pai – Fundador, Monsenhor Alonso neste dia, novamente falou-me da Milícia de Cristo. Hoje, entendo que não era chegada a hora. A hora de Deus é imprevisível. “O rio devia fazer seu curso normal”.
Ainda envolvido pelo entusiasmo das primeiras missas, o Arcebispo, em 29 de julho de 1965 designou-me para as primeiras funções enquanto presbítero: Diretor Arquidiocesano das Obras das Vocações e Ecônomo do Seminário Nossa Senhora da Penha. Daí para a frente começou meu envolvimento com a Igreja de Vitória (O período mais desafiador foi estar como pároco da Catedral – função que exerci por 30 anos e seis meses – e em 22 de novembro de 1989 assumir o economato da Mitra para o mandato de cinco anos e não bastasse isso, neste período, assumi a coordenação geral da visita do Santo Padre, o Papa João Paulo II à nossa querida Igreja de Vitória. Acolhi esta nomeação do Arcebispo Dom Silvestre Scandian, svd como um presente e em atitude de fé, pois sabíamos que estava vindo até nós, o sucessor de Pedro, o Vigário de Cristo na terra.)
Voltemos a 1966. Após o Concílio Vaticano II veio o grande vendaval atingindo muito forte a vida religiosa. Se as grandes e bem estruturadas congregações foram abaladas, imaginem o que aconteceu com as iniciantes! Nesta época, o ramo feminino fica, também totalmente desestruturado.
Quero aqui registrar a figura de Irmã Maria do Carmo (Olinda Benfica) como a grande guerreira, que em sua simplicidade e pequenez colocou-se ao lado da querida Madre Maria do Sagrado Coração (Célina Lírio) – co-fundadora como que cantando “Milicianas avante! Ao combate (...)”. Sim, Irmã do Carmo lutou contra tudo e contra todos não deixando que as portas do Lar Santa Terezinha (Casa Mãe) fossem fechadas. Ali permaneceu 17 longos anos sem receber candidatas à Vida Religiosa, somente meninas carentes que precisavam ser acolhidas e educadas. Fazia tudo com muito carinho e amor, mas passando por grandes dificuldades financeiras. Neste período nunca as abandonei.
Deus tem sempre seu carinho para com aqueles que nele confiam. Chega à Vitória como Arcebispo Coadjuntor com direito a sucessão de Dom João Batista o bispo de Araçuaí, o capixaba Dom Silvestre Luiz Scandian, svd. Tendo nossa história tão ligada à Diocese de Araçuaí, cabe-nos perguntar: Por que vem à Vitória o bispo de Araçuaí? E logo, um capixaba. Obra do acaso? Não acredito. Deus tem os seus planos e os mesmos são insondáveis. Também, sem nada ainda saber, a primeira paróquia visitada por ele foi Baixo Guandu. Também obra do acaso? Certo que não! Deus estava sinalizando algo. Em 1982, nesta visita pastoral de Dom Silvestre, Monsenhor Alonso relata a ele toda a história da Milícia de Cristo.
Nesta época encontra-se no Lar Santa Terezinha a Madre Maria do Sagrado Coração (co-fundadora) com mais quatro companheiras: Ir. Maria do Carmo, Ir. Verônica, Ir. Lúcia e Ir. Maria do Socorro e na casa paroquial três jovens. É necessário salientar que nunca se ficou sem a presença de algum jovem que Monsenhor Alonso considerava um vocacionado para a Milícia de Cristo e em certo tempo chegou a enviar dois deles para fazer filosofia em Manhumirim com os Sacramentinos. Este fato nos leva a poder afirmar, também, que:
...O Ramo masculino nunca acabou. Portanto, no dia 19 de março de 1994 não estávamos iniciando e sim dando continuidade, estruturando e oficialmente legalizando diante das autoridades eclesiásticas aquilo que Monsenhor Alonso iniciou em 08 de maio de 1948.
Por que não iniciei a reestrurução do Ramo masculino na mesma época em que comecei a reestruturação das Irmãs em 1983? Diz o ditado: “é impossível cantar e assobiar ao mesmo tempo”. A reestruturação do Ramo Feminino foi algo desafiador, começamos da “estaca zero”. Era necessário esperar o tempo em que elas já estivessem reerguidas.
Dom Silvestre convida as irmãs para um retiro e este aconteceu em Santa Isabel – distrito de Domingos Martins – ES. No encerramento do retiro ele se propõe a ajudá-las, e para isto seria necessário abrir a casa de formação em Vitória. Elas, com muita alegria e esperança, aceitaram a proposta. Neste período, Ir. Vitória, que havia deixado a Congregação das irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Ir. Aninha Libardi das Irmãs “Azuis”, ingressaram no grupo das “cinco”.
O chamado de Deus, através de Monsenhor Alonso à Madre Sagrado com a sua simplicidade, sem nenhuma cultura acadêmica e sem nenhuma pretensão de poder, deverá ser acolhido como uma proposta para a família Miliciana procurar viver na humildade e simplicidade. Não deverá ser nunca a preocupação com títulos, cursos e doutorados, mas sim, o desejo prioritário em ser santos!
A sua primeira companheira foi Jacy Pereira, que logo no ano seguinte à fundação, por exigência da família, que não aceitava a pobreza em que viviam as Irmãs Milicianas, foi para a Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência. Ela foi quem, num primeiro momento, assumiu a direção do grupo iniciante e, para ser fiel a história, pode ser considerada a primeira superiora geral e a segunda a Madre Maria da Divina Providência. Madre Sagrado – co-fundadora – queria somente servir, servir sem ser solicitada, servir desinteressadamente. O seu silêncio, que tantas vezes foi interpretado com timidez, ficou para mim como o silêncio da prudência. Nunca tinha uma palavra de crítica a quem quer que fosse. O seu semblante transmitia o que de fato ela era: uma mulher orante, verdadeiramente uma contemplativa, mesmo na ação.
Com a saída da Madre Providência (assim como era chamada) o Senhor Arcebispo Dom João Batista nomeou um triunvirato para conduzir a congregação. Foram elas: Madre Maria de Jesus Crucificado (Elza Fonseca); Madre Medianeira (Alcemira) e Madre Maria Alonsa (Isabel). Chega um momento em que a Elza e a Isabel deixam a congregação ficando nomeada, por Dom João Batista, como superiora geral, a Madre Medianeira. Madre Maria Medianeira, então pode ser considerada a terceira superiora geral. Nesta época, a casa central estava em Vila Velha. A falta de apoio por parte da autoridade eclesiástica aumentava a ponto de Madre Medianeira, também cansar-se e desistir.
Dom João Batista não decretou o fim da congregação, mas nada fazia para ajudá-la. Foi nesta triste situação que resolveram voltar à Casa Mãe em Baixo Guandu, isto no ano de 1967, e Irmã Maria do Carmo, a pedido de Monsenhor Alonso, assume a direção do grupo. Também quando abriram a Casa de Formação em Vitória, Dom Silvestre a confirma como superiora geral. Ela é então a quarta superiora geral. Ao deixar o cargo assume, na primeira eleição, como quinta superiora geral, a Ir. Nely Rodrigues que conduziu o grupo por quatro anos. Atualmente é a sexta superiora geral Madre Creuza de Assis em seu segundo mandato.
Foi aos 07 de janeiro de 1983, não sendo planejado, mas por carinho do Coração de Jesus, numa primeira sexta-feira do mês que chegam a Vitória: Irmã Maria do Carmo e Irmã Vitória instalando-se na Paróquia de Santo Antônio, sendo acolhidas pelo Pe. Antônio Frederico – Pavoniano. Moraram nos cômodos que havia atrás da Igreja Matriz. Logo acolheram três jovens vocacionadas.
Os Milicianos e Milicianas de Cristo terão que ser eternamente gratos a Dom Silvestre Luiz Scandian. Ele teve a coragem de mexer em um amontoado de cinzas e qual surpresa: encontrou ainda brasas!
Nesta ocasião fui nomeado por Dom Silvestre diretor das Irmãs, com a aprovação de Monsenhor Alonso. E posso dizer que me dediquei inteiramente a esta tarefa, muito árdua por sinal, pois não se tratava de ajudá-las só espiritualmente, mas organizar toda uma estrutura financeira.
Parte do imóvel do antigo Colégio do Carmo, que estava abandonado, foi cedido por Dom Silvestre às Irmãs; aí demos início as reformas e instalamos a Casa Central de Formação e criamos o Lar Mãe Emília, obra de assistência à gestante carente e a Creche João Paulo II. Iniciamos também o Lar Dom João Batista para acolher menores carentes na faixa etária de 7 a 14 anos. Todo este trabalho de reforma do prédio e montagem da casa de Formação da Lar Mãe Emília, bem como o Lar Dom João Batista foi realizado com o trabalho incansável dos casais da Pastoral Familiar da Catedral.