Padre Alonso, em uma de suas entrevistas, lembrou-se de que muitos colegas desistiram no seminário de Manhumirim, devido à introdução de profundas reformas pelo padre Júlio.
Enquanto estava nesse seminário, padre Alonso geralmente levantava às cinco horas da manhã e logo após o café eram iniciados os estudos que só terminavam às nove horas da noite. Havia pequenos intervalos para o descanso que incluíam os horários das refeições; o ritmo era realmente acelerado, os estudos lhe tomavam a maior parte do tempo, que também era dedicado à constante prática da oração. Estava sempre vigilante para que seu espírito não enfrentasse e o levasse a desistir diante daquele ritmo exaustivo. Por isso, mantinha-se em freqüente harmonia com Deus para não se desviar de seu propósito e para não fraquejar na longa caminhada que tinha pela frente. Mesmo com toda dificuldade, estava determinado a ser padre e iria até o fim, independente do que acontecesse.
Em 1934, ele recebeu a batina preta do clero diocesano. Lembrou-se de ter sentido muito orgulho. Além disso, nesse mesmo ano, foi apresentado ao bispo dom Luiz Scortegagna pelo gaúcho padre Ponciano Stenzel. Lembrou-se desses instantes inesquecíveis de sua vida enquanto repousava em seu quarto na sala paroquial.
Foi a partir dos estudos de filosofia que encontrou respostas a muitos questionamentos em torno de sua vida, o que lhe serviu de embasamento para compreender um pouco mais o processo da existência. A partir de então, assumiu uma consciência de pregador e construtor do Reino de Deus. Nunca desanimou, queria levar a plenitude da vida aos cristãos a partir da reforma íntima e da essência que emana de Deus.
Nos períodos de férias, concentrava suas atividades no município de Serra para ajudar o padre Pedro de Oliveira e fazia companhia ao bispo do Luiz Scortegagna nas visitas pastorais. Concluiu o curso de teologia em 1941 e foi ordenado em 21 de dezembro daquele mesmo ano, na cidade de Vitória, no Espírito Santo. Foi um dia de tão grande satisfação, que palavras não poderiam descrever! Recordou que Geraldo Meyes, colega do seminário, também foi agraciado pela mesma conquista, tendo sido ordenado nessa mesma data. “Foi um dia muito feliz para nós, éramos padres!”
Ambos foram ordenados pelo bispo dom Luiz Scortegagna. Padre Alonso presidiu sua primeira missa na tradicional festa de São Benedito, no município de Serra. No início de sua carreira sacerdotal, padre Alonso, como professor, acreditava que os alunos gostavam dele. Falou da boa sensação de manter contato direto com os jovens e concluiu: “A experiência da sala de aula foi extraordinária!”
Ele cativava seus alunos pela paciência, tranqüilidade e boa vontade de ensinar. Sem se preocupar muito com um método especifico, sempre levava os alunos a uma aprendizagem reflexiva, o que facilitava a compreensão do que ensinava. Todos com a atenção sempre voltada para as coisas que ele professava não se cansavam, pois sua forma de ensinar tornava as aulas muito interessantes. Assim, da experiência de professor, nascia o senhor das esplendidas e eloquentes mensagens que seriam ouvidas por milhares de cristãos através de seu trabalho na evangelização.
Após sua ordenação sacerdotal, padre Alonso foi enviado para o município de Alegre, onde fez grande amizade com monsenhor João Batista Pavese. Durante os nove meses em que ali permaneceu sentiu muito orgulho em trabalhar ao lado do monsenhor. Como principalmente, ao lado desse grande sacerdote ganhou uma bagagem inquestionável de saberes que lhe deram a firmeza e o caráter determinado daquele grande amigo que muito lhe ensinou.
Foi pena ter ficado tão pouco tempo em Alegre. Aprendeu muito, mas considerou que padre Pavese ainda tinha muito a lhe ensinar. Sua filosofia de vida era muito grande para ser assimilada em apenas alguns meses. Padre Alonso recebeu transferência para Colatina, onde conheceu o monsenhor Luiz Cláudio de Freitas Rosa, uma grande personalidade na missão evangelizadora, muito respeitado pelos cristãos.
A vivência com as pessoas da paróquia foi despertando em padre Alonso o gosto pelo novo ritmo de vida e a admiração pelos trabalhos que eram desenvolvidos nas comunidades do município de Colatina. Aprendeu muito com o monsenhor Luiz Cláudio. O que aprendeu com esses grandes homens, padre Alonso sempre levou consigo e somou os saberes dos mestres que a vida lhe possibilitou, tendo na pessoa de Jesus a grande tônica da condução de seus pensamentos. Ele nunca desperdiçou uma oportunidade de aprender.
O dinamismo era uma característica do jovem padre Alonso. Com o padre Pavese, no município de Alegre, ele organizou a Cruzadinha e os Congregados Marianos e desenvolveu trabalhos sociais nas comunidades do interior em longas caminhadas a cavalo. No município de Colatina não foi diferente! Abraçou com muita iniciativa os trabalhos que ali encontrou. Nesse município, a maioria dos cristãos era de nacionalidade italiana ou alemã – povos de costumes variados cujo comportamento não se assemelhava ao que ele estava acostumado. Essa experiência lhe possibilitou novos contatos. Conquistou a amizade daquelas pessoas que possuíam forte tradição.
Segundo sua própria consideração, ele estava no coração daquelas pessoas da mesma forma que elas no seu. Se as conquistou por tratá-las com respeito, também foi conquistado pelo mesmo motivo e, lembrando da culinária típica daquela cultura, não poderia negar que o conquistaram, definitivamente, pelas deliciosas e inesquecíveis macarronadas que faziam.
Quando partiu dessa paróquia deixou parte de si nas pessoas que ele considerou tê-lo feito crescer muito e por isso também levou junto de si um pedacinho de cada uma delas. O amor que padre Alonso levava ás pessoas não era um amor programado, nem condicionado de regras, costumes ou línguas. Mesmo naqueles de outros idiomas, que não entendiam sua língua, o amavam com profunda consideração porque o amor que ele trazia consigo, além de puro, não era feito apenas de palavras, mas de ações, por isso era transmitido a qualquer cultura e todos podiam senti-lo.
Na comunidade de Colatina, teve grandes realizações, as quais foram verdadeiras conquistas. Fundou a Congregação Mariana e ajudou o comendador José Pagani na campanha do Colégio Marista. Foi o povo guanduense que padre Alonso construiu a maior parte de sua história de vida. Um povo que pode contar e também pode escrever as experiências dando o verdadeiro testemunho desse amor que, se em pouco tempo contagiou cristãos de outras comunidades, imaginem em décadas de vivência na comunidade de Baixo Guandu!
[...] Quando não havia capelas no interior para reunir os cristãos, padre Alonso pregava o Evangelho ao ar livre e à sombra das árvores. Nem por isso suas palavras deixavam de surtir o efeito da renovação íntima que objetivava. Aos poucos, padre Alonso foi invadindo as privacidades monótonas das almas e pacientemente foi enchendo-as de esperança e fé. Sua perseverança e determinação foram aos poucos conquistando o povo das comunidades. Todos passaram a admirá-lo.
Ele era um jovem bem afeiçoado e possivelmente deve ter despertado interesse em alguns jovens da época, mas o jovem padre não conseguia amar apenas a uma jovem; ele amava a todas e a todos os jovens, crianças, adultos e idosos. Seu amor era de pai! Ele se empenhou com toda sua energia e juventude que fazer na paróquia e não decepcionou com seus propósitos em nenhum momento.
Ele celebrou a missa na despedida do padre Aristides no dia 1º de abril de 1944. Nesse dia, a comunidade rendeu grande homenagem a seu antecessor que desempenhara um excelente trabalho durante o tempo em que esteve em Baixo Guandu. Mas a messe era muito grande e por isso sabia que ainda havia muito a fazer. Planejava resgatar e continuar fazendo brotar a fé cristã no coração das pessoas levando a elas uma referência religiosa.
Padre Alonso começou seu trabalho acreditando que não poderia desistir de nenhuma ovelha. Ao receber a glória de Deus de se tornar um de seus pastores, acreditava que Deus havia lhe confiado cada um de seus filhos. Por isso, buscou alcançar a todos sem discriminação. Deus permaneceu com ele! Sua fé lhe trouxe honrosas vitórias. O esplendor de suas mensagens e conselhos atraía pessoas de distantes localidades. Pessoas que às vezes iam à igreja somente quando necessitavam de sacramentos como batizados e casamentos. Tornou-se grande amigo daqueles que outrora estavam distantes, mas que através de seus ensinamentos passaram a ser católicos efetivos.
Alonso era um padre integrado à vida comunitária, e suas atividades não se limitavam apenas à liturgia e aos sacramentos. Seu comportamento junto às famílias ia muito além da função de pregador do Evangelho. Durante quase meio século de convívio social nessa comunidade passou a ser parte da vida das pessoas, tornando-se o amigo conselheiro de todos. Por isso até hoje as pessoas não têm apenas a sensação de que perderam um padre, mas a de que perderam um pai.
[...] o amor e a fé que possuía lhe deram a grandeza de não ceder à pequenez das provocações que recebia. A presença do bem em sua alma dava-lhe a conscientização de que as dificuldades encontradas eram apenas provações. E Deus nunca o abandonou! Em 1945, o mundo estava em guerra lá fora. Dentro da comunidade, padre Alonso também declarava guerra contra essas forças que não queriam ver crescer o Reino de Deus. Ele nunca desistiu de lutar.
Em 1948, consciente de que sozinho não poderia assumir os desafios que a paróquia de Baixo Guandu lhe apresentava, concretizou o apelo de Deus em seu coração fundando uma família religiosa de padres, irmãos e irmãs, a qual deu o nome de Milícia de Cristo. [...] Padre Alonso não foi prefeito, mas atuou de forma grandiosa com a responsabilidade do representante social que foi. Para a realização de suas obras buscou recursos em capitais como Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Relata-se, inclusive, que teria sido convidado para candidatar-se ao cargo de deputado estadual, mas não aceitou.
Como defensor da educação, queria ver uma sociedade mais bem instruída. A afinidade com pessoas do serviço público o colocou em posição de buscar melhores condições de ensino para o município. Começou em 1950, fundando a Escola Paroquial, que dava condições para o ensino primário e para a admissão ao ginásio. Dois anos depois ampliou essa escola, criando o Ginásio Brasil, no dia 14 de outubro de 1952, com capacidade para mil alunos. Hoje o Ginásio Brasil atende ao ensino nos níveis fundamental e médio. Graças a seu apoio, muitas escolas foram fundadas no interior do município, como em Ibituba [...].
Desde o início de sua vida sacerdotal, padre Alonso dedicou-se à causa da infância carente. O carinho, o respeito, a consideração e o amor foram as formas de as crianças retribuírem o que ele fez por elas. O nome Lar Santa Terezinha é uma homenagem à santa que padre Alonso depositava grande devoção e fé.
O patronato recebeu o nome de um grande amigo e mestre conforme ele mesmo considerou: Patronato Monsenhor Luiz Cláudio. No ano de 1956, padre Alonso trouxe para Baixo Guandu o movimento católico denominado Círculo Operário, que tinha como objetivo dar assistência espiritual e social aos operários. Nessa época não existiam os sindicatos.