Refletimos sobre os talentos. Deus distribuiu talentos entre os homens para que ele, tendo de trabalhar de forma integrada, descobrissem a necessidade de se unirem para uma vida melhor. Uma vida pautada num processo de mútua ajuda, em que cada um cresce ajudando e sendo ajudado pelo outro. Por isso, temos a necessidade de agir como seres sociais.
Na vida coletiva proposta por Deus, cada um assume um papel no processo de ajuda com o outro. A vocação deve ser antes de tudo encontrada naquilo que sabemos e gostamos de fazer. Contudo vale ressaltar que, segundo Leonardo Da Vinci: “A sabedoria da vida não consiste em fazer aquilo que se gosta, mas gostar daquilo que se faz” – mas penso que ele se referia à arte da pintura.
Nem sempre é fácil fazer a opção de onde queremos atuar com o nosso trabalho. Às vezes desempenhamos bem uma atividade, mas achamos que poderíamos produzir mais em outra.
Quando à formação, é comum encontrarmos jovens que se decidiram por uma formação e, depois, se identificaram com outra. Às vezes, acabam fazendo nova opção. Há casos em que a cruel dúvida leva ao extremo de se pensar não ser capaz de fazer nada. Mas a experiência mostra que tudo é uma questão de tempo e paciência. A primeira coisa é não se desesperar; cada um acaba se encontrando, afinal são muitos os talentos.
Hoje, o homem tem maior liberdade para escolher o que quer fazer e ser na vida. Mas nem sempre foi assim. Em outros tempos havia famílias que buscava direcionar os filhos a uma profissão de status social, como a medicina, a advocacia, a formação sacerdotal e outras. Mas sem a vocação para tais funções, os resultados, geralmente, refletem os conflitos e as insatisfações profissionais que geram sérias consequências comportamentais. A verdade é que fica difícil ser o que não se é. É frustrante deixar de fazer algo para o qual se recebeu uma habilidade natural para fazer ou que não condiz com o potencial ou com o ideal de cada um.
Não é fácil seguir um caminho imposto. E aqui vale ressaltar que atualmente as imposições continuam sendo feitas pelas limitações socioeconômicas, que privam muitos talentos de eclodirem por falta de condições para a formação dos excluídos sociais. Quantos talentos não estão fora do palco do progresso de uma sociedade por falta de condições mínimas de educação?!
Cada qual tem sua missão e isso deve ser respeitado. Não é correto, por exemplo, querermos que um vocacionado à medicina seja formado em engenharia civil, porque a sua missão é tratar das pessoas enfermas e não construir casas. Seria ele um engenheiro frustrado com péssimas habilidades profissionais. Além disso, possivelmente, a sociedade perderia um bom médico. Assim é o sacerdote, que tem a missão de evangelizar segundo sua vocação. Alías, uma vocação bastante exigente! Por isso não adianta decidir ser sacerdote sem se sentir chamado à missão, caso contrário haverá possibilidade de desistência no meio do caminho ou de uma formação igualmente frustrada.
Um jovem no seminário terá tempo suficiente para avaliar o caminho que se dispôs seguir. Ele passará vários anos estudando e nesse tempo passará também por vários anos estudando e nesse tempo passará também por várias provações que a própria natureza se encarregará de lhe mostrar. Terá tempo suficiente para adquirir uma consciência bem amadurecida da opção feita, podendo realizar uma auto-avaliação e saber se de fato aquele é o caminho que gostaria de seguir.
A vida sacerdotal é uma vida de total dedicação. Requer desapego e abstinência de muitas coisas materiais. Porém, muitos não conseguem o suficiente equilíbrio entre corpo e espírito de forma que consiga abster-se de certas imposições da própria natureza humana; mas uma vez vencida as pressões dessa imposições, alcança-se grande força espiritual, adquirindo o potencial da auto-afirmação. A vida sacerdotal da nossa Igreja requer uma determinação que visa ao fortalecimento diante das necessidades da carne para que o espírito esteja sempre preparado e atento às intercorrências de outras tentações, porque o homem não é tentado somente pelo desejo sexual; há muitas outras tentações que podem desvirtuar todo um conjunto de regras e leis criadas pelo próprio homem, quiçá a lei criada por Deus! Portanto, quem não consegue se identificar com as exigências da vida sacerdotal de nossa Igreja não está vocacionado a ela, pelo menos na atual conjuntura, porque estamos vocacionados àquilo que fazemos com bom senso, de bom gosto e com prazer, e a prova de nossa realização missionária consiste em não nos sentirmos frustrados diante de nossa forma de viver a vida, assim como em qualquer outra função temos que abrir mão de algumas coisas. Executar o bom trabalho é o melhor prazer para todo homem.
Há pessoas que têm o dom da palavra e são boas oradoras. Mas o dom em si não é a vocação. Pode haver bons pregadores da palavra que são incapazes de um mínimo de desapego para seguir, por exemplo, a vida sacerdotal. Não é o fato de possuir um certo dom que se tem definida a vocação. O dom é apenas uma das manifestações da vocação, que é formada pelo conjunto de vários dons. O dom de escrever, de ler e de falar em público pode, por exemplo, formar a vocação de um professor. Mas imagem como seria se a este faltasse o dom da didática!
No caso do seminarista, ele estará sendo preparado num processo de amadurecimento para sua escolha definitiva na vida sacerdotal, mas é importante fixar que o seminário não obriga ninguém a seguir o sacerdócio. Isso depende de cada um. A opção se concretiza quando o próprio seminarista se identifica com o trabalho que deverá assumir, sabendo que isso refletirá na sua vida social e que terá de fazer algumas opções em detrimento de outras, ou seja, não adianta um jovem esperar que o seminário o faça vocacionado. Com o convívio no seminário, muitos descobrem que realmente estão no caminho certo; mas há também muitos que descobrem que seu caminho é outro. Não há nada errado em desistir caso não se identifique com o trabalho sacerdotal. Errado seria tornar-se um padre frustrado com o desejo de assumir uma outra postura diante da vida. Talvez se casar, ter filhos! Enfim, seguir a sua natureza, porque aí está a sua verdadeira vocação.
Deus nos permitiu muitas formas de servi-lo, tendo ele mesmo dividido os talentos entre os homens. O importante é que cada um assuma a sua missão. A nossa Igreja está realmente necessitando de operários porque a messe é grande e os operários são poucos, mas para servir em prol da construção do Reino de Deus basta que cada um dedique um pouco de seu tempo e não importa o talento que tenhamos recebido, pois todos nós somos responsáveis pela construção deste Reino.
Há um número bastante reduzido de sacerdotes em nossa Igreja. Gostaria que todos pudessem orar para que Deus nos enviasse mais alguns vocacionados para essa missão. Pregar a palavra de Deus é uma grande alegria, tanto para quem prega quanto para quem ouve.